domingo, 5 de abril de 2009

INTRODUÇÃO











Não faria sentido, seria absolutamente redundante, vir agora através deste Blog - NA ROTA DAS PEDRAS - fazer a reedição total, ou mesmo parcial que fosse, dos livros que oportunamente publiquei, nomeadamente os que às Pedras se referem em exclusivo, seja, Os Cabeços das Maias (1995) e O País das Pedras (2001). Mas também nos outros títulos o tema das Pedras foi igualmente tratado sempre que entendi oportuno fazê-lo, embora de forma casuística e circunstancial. Assim, no livro A Guarda No Caminho do Estremo era inevitável abordar essa temática a propósito da história de Vila do Touro e de Sortelha (pág.s 64 e 108), de tal modo o fenómeno é avassalador, e ainda no livro Pêga - Terra de Panchurras (2008) quando tratei de assuntos como os menhires, as sepulturas e os vestígios rupestres (pág. 49 e seguintes) existentes no limite da freguesia. Mesmo no livro Rosas de Santa Maria, cujo texto é predominantemente literário, ao fazer a sua reedição em 2002, não quis perder a oportunidade de mais uma vez insistir na divulação da minha tese e proposta de interpretação das Pedras ao introduzi-lo com a comunicação que, em 31/5/01, fiz no Paço da Cultura da Guarda aquando da apresentação de O País das Pedras, adaptado agora o texto, evidente, à sua nova circunstância com o título "Rosas de Santa Maria e a temática das Pedras".
Evidente que tudo o que vier a ser tratado neste Blog terá necessariamente a ver, será mesmo assunto decorrente, com a tese ou proposta constante dos livros supra-mencionados, donde, para uma melhor e maior compreensão do que vier a acontecer nesta minha página da Internet, talvez ajude a leitura das obras acima citadas nomeadamente Os Cabeços das Maias e O País das Pedras cujas capas reproduzi no início.
De um modo geral, e muito sucintamente, em que consiste então essa tese ou proposta com que iniciei o percurso da minha escrita, em 1995, in Os Cabeços das Maias, espécie de teoria geral, prolongada e explicitada em 2001 n'O País das Pedras?
Preto no branco: muitas das Pedras que hoje fazem a paisagem granítica das zonas do interior, umas de raiz ou fixas, os barrocos, outras móveis, os menhires e cavalos de frisa, não são, em meu entender, um resultado da erosão mas sim do martelo, do cinzel, do escopro, do pistolo do homem pré-romano e as figuras obtidas, por regra em contra-luz, inserem-se em um contexto religioso-cultural lusitano anterior à nossa era. Situar-se-ão cronologicamente na Idade do Ferro com início, segundo uns, no século VIII AC ou no século VI segundo outros. E terá toda a lógica, penso, já que o granito, nomeadamente o de grão fino, pressupõe a existência de um material mais duro para ser trabalhado. Exclusão assim para o cobre e mesmo para o bronze. O fenómeno das Pedras, portanto, no meu modesto entender, e na perspectiva em que aqui é abordado, não terá nada a ver com o Paleolítico, Neolítico, Calcolítico ou a Idade do Bronze.
Neste sentido, e na mesma perspectiva, em Espanha, as coisas mexem e sem os preconceitos atreitos a instâncias de nível superior ou como tal consideradas. Entre outros de referir o nome do professor universitário de Salamanca, Ramón Grande del Brio, por exemplo, com obra publicada acerca de modelos similares àqueles que eu próprio analisei do lado de cá da fronteira.
A abundância e a dispersão dos vários modelos existentes têm a ver necessariamente com a densidade populacional característica de uma ou várias épocas históricas que integram esse período longínquo e com o tipo de povoamento disperso que precedeu o povoamento concentrado (ou moderno) operado com a pax romana - rubricas por mim tratadas nos dois livros citados sobretudo em O País das Pedras.
Admiro-me eu hoje como certas pessoas e até entidades com responsabilidades ao nível da história e da cultura não vêem ou não querem ver tal fenómeno e tudo cirunscrevem e interpretam como um resultado da erosão operada sob a influência de líquenes, de chuvas, de ventos, de rios e mares que nunca existiram, de vulcões, de terramotos... Claro que pensar deste modo facilita porque tudo estaria assim explicado. Mas se, porventura, eu ou alguém levantar o problema de que o fenómeno é consequência da acção do homem, como estou certo que o é, impende sobre o próprio e outros eventuais interessados a obrigação de fazer a respectiva leitura e avançar com propostas de interpretação. Foi afinal o que eu fiz. Aqueles que discordam terão que ter a coragem de dizer que o fenómeno não existe. Existindo, porque existe, ninguém estará dispensado de ousar.
Como surgiu então esta teoria ou proposta?
Sou um natural, e de há muitos anos residente à ilharga da denominada Zona das Pedras integrada nomeadamente pelo Cabeço das Fráguas, pelo S. Cornélio e outros cabeços menores em que o fenómeno das manifestações líticas prolifera abundantemente. Acontece assim que desde a minha infância me foram quase uma obsessão as cabeças (de homem, de mulher), os berrões, as aras sacrificiais, as recravas ou chumbadoiros, os cágados, os sapos, abutres, corvos, pés, podomorfos, botas direccionais, figuras fálicas, serpentiformes, barcos e outros símbolos femininos, moirões, pias, poças, figuras geométricas (quadriláteras, triangulares, cónicas), perros ou cães, assentos, sepulturas, cavalos de frisa que ainda hoje fazem a divisão e a estrutura da propriedade rústica por estas bandas...
Sendo um amante da natureza, e também caçador, deu para reparar que os vários modelos se repetiam em locais tão distintos, como sejam, esta minha zona a que eu pertenço mas também a Beira Baixa, o Alto Alentejo, a Extremadura Espanhola, a Serra da Estrela, Trancoso, Foz Coa etc, etc. Esta coincidência deu para criar em mim a convicção de que tudo isto não poderia ser ocasional. Daqui resultou que, ao longo de anos, fui formando instintivamente e de modo empírico o que bem poderia designar de colecções mentais dos objectos observados: cabeças, berrões, perros, figuras geométricas, etc.
O encontro não meramente ocasional das Pedras (6) que integram o que mais tarde designei de Santuário Rupestre Lusitano da Cornusela, nas imediações do monte S. Cornélio e no caminho de Sortelha, e a "nomeação" que fiz dos respectivos elementos em correspondência com os atributos da Divindade Lusitana constantes da inscrição lusibérica das Fráguas foram decisivos em todo este processo: a leitura e interpretação desses elementos vão fazer com que, pelo método dedutivo-analógico, eu interprete, de forma muito tímida a princípio, todo o material que eu já conhecia e vinha coleccionando nos diversos lugares. A convicção de que eu devia divulgar este "achado" deveras complexo, polémico e eventualmente "perturbador", como alguém já disse, criou em mim a obrigação de escrever e publicar o meu primeiro livro - Os Cabeços das Maias - o que acontece em 1995. Logo a seguir, a ideia bem singela de que era impossível não haver nos textos dos clássicos (Estrabão, Plínio...) e na etnografia portuguesa (Leite de Vasconcelos, Teófilo Braga...) elementos convergentes com a minha tese ou proposta leva-me a fazer uma inventariação de dados através da leitura desses e de outros autores - as conclusões obtidas, que ultrapassaram em muito as minhas expectativas, diga-se, mais os elementos sobrantes do primeiro livro e outros novos que, no após, fui recolhendo, dão origem, em 2001, a O País das Pedras que é assim uma explicitação e prolongamento do primeiro a corroborar a tese ao tempo formulada.
Porquê então, aqui e agora, este Blog sobre a mesma temática das Pedras abordada que já foi nos meus livros publicados?
Intuitos de divulgação, certamente, mas desta vez, e aproveitando o poder da imagem e das novas tecnologias, numa perspectiva dirigida e muito concreta do hibridismo das Pedras e da sua relação com a toponímia do local em que se situam, com as lendas e a cultura popular, quando for o caso.
Convicto da veracidade das conclusões a que cheguei entendo assim ser obrigação minha divulgar as teses que em devido tempo avancei, mas igualmente os muitos modelos líticos que conheço e que superabundam por esse "país das pedras" que é o nosso. Talvez ajude a que outros, e na mesma perspectiva, façam igual inventariação de modelos seus conhecidos em outros locais, a bem da cultura.
Procurarei também trazer à evidência, como já disse, o hibridismo de alguns modelos e que consiste no seguinte: a mesma Pedra produz diferentes imagens (figuras) consoante o ângulo de observação. E não me falem no primarismo dessa vetusta arte lusitana de esculpir o granito! É que, nenhuma das imagens a obter poderia perturbar as restantes... E isso não se me afigura fácil... Por outro lado, é impressionante como ainda hoje, na maioria dos casos, os nomes dos locais, sobretudo ao nível da propriedade rústica, têm a ver com as Pedras existentes "in situ". Sendo o fenómeno anterior à nossa era veja-se assim da antiguidade da toponímia que ainda hoje faz as matrizes das Finanças dos vários concelhos com todas as vantagens daí decorrentes para o comum dos cidadãos ditos modernos... É, no mínimo, a Pré-História (?) a entrar na nossa contemporaneidade!!!!!
Finalmente, para cada caso, apresentarei em esboço um roteiro destinado àqueles que, por curiosidade, cultura ou passatempo, queiram repetir o percurso que alguém já fez por conta e risco.










Nota - Os livros que ao assunto se referem, e que acima nomeei, podem ser encomendados à CASA VERITAS - GUARDA pelo telefone (271)222105 ou através do endereço veritas-marques@mail.telepac.pt