terça-feira, 13 de agosto de 2013

A Pedra Escrita de Serrazes (S. Pedro do Sul)

 
Foto 1 - A Pedra Escrita de Serrazes
 
Ao publicar, em 2011, o último livro a que dei o título do Blog "Na Rota das Pedras", não era intenção minha regressar ao tema das Pedras, fosse em que circunstâncias fosse. Afirmei-o, aliás, no momento da apresentação que teve lugar, em Novembro, na Guarda, convencido que estava, e estou, de que, com os três livros publicados sobre a matéria (algumas centenas de páginas), teria dado aos interessados elementos suficientes para, por conta própria, e na mesma perspectiva, se poderem aventurar na descoberta e interpretação de modelos similares que povoam "o país das pedras" que é este nosso Portugal e até, que eu saiba, uma boa parte da vizinha Espanha (Extremadura, pelo menos!).
Tem toda a razão o povo quando recomenda "nunca digas desta água não beberei, ou melhor, não voltarei a beber!". E assim foi. Um dia destes, em circunstâncias que não vem ao caso referir, quando dei conta, levado por mão amiga de alguém experimentado nestas andanças, estava posto frente ao enigma da Pedra Escrita de Serrazes protegida por um telheiro que o tempo vai abalroando mas que, em todo o caso, ajuda à referenciação do dito monólito.
Três conjuntos de (3 X 3) círculos concêntricos, com uma marca ao meio, que Leite de Vasconcelos designaria de "covinhas"; todo um emaranhado de linhas e contralinhas, definindo toda uma série de pequenos rectângulos e quadradinhos, quer em sentido vertical quer horizontal; outras linhas dispersas em sentido descendente, algumas a tocar, ou quase, a base do monólito; um buraco com alguns centímetros de fundo e com um dedo ou pouco mais de diâmetro, sobre o lado direito do monólito e a cerca de dois a três palmos da base; duas manchas irregulares, uma de cada lado, rebaixadas pela eventual queda de duas "lascas" do todo granítico...constituem, sem dúvida, um verdeiro enigma e um quebra-cabeças para quem não está de posse do código que possa levar o curioso à descodificação dos "caracteres" bem à vista, tratando-se de escrita ou não, símbolos todavia a pedir sejam interpretados...
Foi já de regresso ao alcatrão, e a alguns metros do caminho que leva à dita Pedra, que dei conta de um pequeno texto encaixilhado e protegido do sol e da chuva por um destes modernos telheiros, a cheirar a óleo e a cuprinol, a imitar sem dúvida uma certa ruralidade, que nunca existiu, com a vantagem, isso sim, de informar o turista como eu, do que os entendidos pensam ou deixam de pensar acerca do monólito e dos símbolos que ostenta na sua face anterior, plana, virada a nascente. Eis, em resumo, o que me ocorre reproduzir, acerca das interpretações da dita Pedra:
 
-... estilizações da figura humana;
-... representação de cerimónias fúnebres;
-... culto dos astros, com representações do sol e da lua, e outras constelações, em relação com sacrifícios ou cerimónias religiosas;
-... cronologicamente datada do século X AC, segundo o geógrafo Amorim Girão.
 
Com o devido respeito pelas opiniões reproduzidas, e pelos seus autores, não me parece que qualquer das interpretações emitidas possa corresponder ao verdadeiro significado da Pedra em análise. Vejamos.
No geral, e por experiência própria, as coisas são quase sempre mais simples do que à primeira vista parecem ser, embora a tendência seja de tudo situarmos no domínio do religioso e do esotérico, da morte, do oculto, do inacessível... Todavia, e quase sempre, é a história do velho "ovo de Colombo" que se repete. Só que, e para que se faça um pouco de luz, é preciso estar de posse de todos, ou pelo menos de alguns, dos elementos que fazem o contexto de modo a construir o respectivo puzzle.
Foi assim que, e já de regresso a casa, reflectindo, tentei enquadrar a Pedra em si e os vários  símbolos no contexto dos meus livros já publicados, nomeadamente O País das Pedras e Na Rota das Pedras, especialmente no que respeita ao "acampamento lusitano e à simbologia das Pedras (cavalos de frisa) com destaque para o "escudo".
Ora acontece que, já em 2001, em O País das Pedras, página 166, eu escrevia a propósito do símbolo atrás referido, e no tocante à área de cavaleiros: «O escudo, dada a sua simplicidade, além de proteger o cavaleiro, poderá ter tido outro papel no terreno - o do moderno sentido proibido. Não é assim exclusivo, com a mesma forma, da área de cavaleiros. Aparece, por isso, não só entre os cavalos de frisa que ladeiam o acampamento como à entrada de quelhas ou passagens de ribeiras que delimitavam eventuais áreas territoriais autonómicas. Surge também no meio dos acampamentos, incluindo a área de peões, certamente para assinalar determinadas zonas consideradas interditas para este ou aquele efeito: iniciados, condenados, cerimónias fúnebres...".
Em face da documentação consultada, que não foi pouca, e por analogia com a interpretação dada aos vários símbolos líticos que fazem parte do acampamento lusitano, pude concluir que a sociedade lusitana, guerreira por natureza, era constituída por três grupos socio-militares: cavaleiros, vélites e peões - sendo que ainda hoje as respectivas áreas que lhes eram afectas, adentro do acampamento, se distinguem pelas diferentes formas e tamanhos dos vários cavalos de frisa que assinalam a periferia do mesmo. Para melhor compreensão do que afirmo, recomendo em especial a leitura do capítulo "O acampamento e a simbologia das Pedras", página 153, no livro "O País das Pedras" e "O acampamento militar lusitano da Cova da Raposa", página 105, do livro "Na Rota das Pedras".
É assim que, e no contexto de tudo o que ao tempo escrevi sobre as Pedras e respectiva simbologia, nomeadamente no que ao acampamento lusitano se refere, a dita Pedra Escrita de Serrazes é, em si mesma, um "escudo-geral" afeiçoado (trabalhado) na parte anterior, que é plana, e onde foram registados os "desenhos", e a parte posterior (poente) que é arredondada. Como modelos similares, dos muitos que conheço, apresento os dois que constam das Fotos 2 e 3, um sito nos Poios Brancos (Serra da Estrela) que interpretei como sendo o suporte de um dos hemisférios do cérebro humano, em relação com a prática da trepanação, e o outro (foto 3) que estava na margem direita do Ribeiro dos Aluados, em frente às Bombas da Galp (Sabugal), junto do qual, ainda no tempo do Rei D. Dinis, se fazia a cobrança de portagens por ser aí, desde 1199, o Porto de Alvasil, um dos termos do concelho da Guarda.
 
 
Foto 2 - Escudo-Geral - Representação de um dos hemisférios do cérebro humano (?)
Poios Brancos (Serra da Estrela)
 
 
Foto 3 - Escudo-Geral...na margem direita do Ribeiro dos Aluados (Sabugal)
 
 Os três conjuntos de (3) círculos concêntricos representam, penso, os três grupos guerreiros que ocupavam o território do acampamento assinalado pelo monólito, correspondendo, em sentido descendente, e da direita para a esquerda, o primeiro ao grupo dos cavaleiros, o segundo aos vélites e o terceiro aos peões. Por analogia com os símbolos por mim analisados no Alto-Coa, o escudo, que era geral, passa assim  a ser escudo triplo. Estes escudos, por regra, encontravam-se na periferia e à entrada dos acampamentos. No caso concreto deste da Pedra Escrita de Serrazes bem poderá assinalar a cabeça do acampamento correspondente ao grupo dominante dos cavaleiros já que a Pedra se situa, pareceu-me, ao nível, ou quase, da cota máxima no terreno, significando, em todo o caso, uma zona interdita ou reservada, o que é natural. Seja como for, tratar-se-á, não tenho dúvidas, de um escudo-triplo do tipo dos das Fotos 4 e 5.
 
 
Foto 4 - Escudo-Triplo... Junto à estrada velha para Sortelha
 
 
Foto 5 - Escudo-Triplo - Alto do Barrocal (Pêga - Guarda)
 
 O escudo da Foto 4, abalroado pelas máquinas instaladoras das eólicas, estava junto da estrada velha Sabugal - Sortelha próximo do actual entroncamento para a Moita e Ribeira da Nave o qual assinalava o espaço militar afecto ao Monte S. Cornélio, a sede do Tirano da Rua, a que me tenho referido bastas vezes nas minhas publicações. O da Foto 5 está (ainda!) no alto do Barrocal, próximo do Cabeço Alto, e assinala a entrada e o começo do acampamento militar lusitano da Cova da Raposa que tratei desenvolvidamente no meu livro Na Rota das Pedras e cuja leitura atrás recomendei.
Os três escudos redondos que constam da Pedra Escrita de Serrazes estão bem em consonância com a documentação escrita e até com a arqueologia. Na verdade, Estrabão em Geografia III não pode ser mais claro: "(Os lusitanos) têm um escudo pequeno de dois pés de diâmetro, côncavo na parte da frente e suspenso com correias e levam também um punhal ou uma faca". No mesmo sentido, também Leite de Vasconcelos, em Religiões da Lusitânia, Vol II, escreve: "Estrabão demora-se a descrever-lhes (aos lusitanos) o escudo redondo e o punhal da cintura, a espada, a lança, a couraça de linho, a cota de malha e o capacete de coiro com penachos".
Quanto à arqueologia, sobretudo em Trás-os-Montes, Minho e Galiza, têm sido encontradas inúmeras estátuas de guerreiros considerados lusitanos, algumas delas decapitadas, com escudo redondo do tipo dos da Foto 6, existentes no Museu Nacional de Arqueologia.



 
Foto 6 - Três guerreiros lusitanos com escudo redondo - Museu Nacional de Arqueologia
 
 Na zona a que eu pertenço, as terras do Alto-Coa, e a que eu dediquei preferencialmente os meus trabalhos, as Pedras que representam o escudo de protecção do guerreiro, nomeadamente dos peões, parecem enquadrar-se no modelo de tipo celta descrito por Jorge de Alarcão em Lições de Pré História, ao afirmar que se tratava de "escudos compridos, rectangulares e ovais e tinham um umbo (gancho) de ferro", o que faria deles arma de arremesso que não apenas de defesa.
A Foto 7 corresponde ao modelo descrito pelo autor citado e situa-se no alto do Barrocal (Pêga), na periferia do já referido acampamento militar lusitano da Cova da Raposa.
 
 
 
Foto 7 - Escudo guerreiro com chanfra - Alto do Barrocal (Pêga)
 
Os rectângulos e o quadriculado da Pedra de Serrazes podem corresponder às "esquadras" , cujo número de homens, sendo actualmente de três (infantaria), tem  variado ao longo dos tempos e até em função da respectiva "arma"... Uma questão em aberto!
Se no buraco fundeiro, à direita, imaginarmos uma qualquer argola embutida, tipo chumbadoiro, a função de suporte para a haste de uma bandeira ou estandarte representativo do acampamento (os signa militaria) não me parece descabida. Até o topónimo, bem próximo do local, "Quinta do Pendão", poderá ter a ver...
Quanto à cronologia, a pedra suporte é de granito puro, de grão fino, creio. Penso que este tipo de rocha não será facilmente trabalhada por um outro material anterior ao domínio da técnica do ferro. A ser assim, o monólito pertencerá à época do ferro, nunca anterior, portanto, ao século VIII AC.


 
 



 
 
 
 
 
 
 


 

quinta-feira, 24 de março de 2011

SEPULTURAS ANTROPOMÓRFICAS I

Introdução
Elas estão por aí, onde menos se espera, a esmo, ao abandono, esquecidas, no meio do moitedo de giestas, silvas, fieitos, urzes, estevas; muitas vezes, em alto, no cimo de um qualquer barroquinho, outras vezes em baixo, rente ao chão, quase sempre desenhadas em pedras de raiz, as pedras fixas ou "perafitas", muito raramente em pedras móveis do tipo dos sarcófagos feitos em lasca de pedra fina mas não tão profundas e sem tampa... Chamam-lhes antropomórficas, em meu entender, e no que respeita a uma grande parte delas, erradamente, já que muitas não têm a forma do corpo humano (anthropós): são verdadeiros podomorfos gigantes, são triangulares, rectangulares, por vezes autênticas "banheiras" a que eu preferiria chamar barcos ou barcas, dada a simbologia... Porque a única característica em comum é estaram escavadas na pedra talvez a designação mais acertada devesse ser de sepulturas rupestres. O povo chama-lhes também pias, e como não houvera de ser?! É que, quando situadas nos cerros e encostas agrestes, acabam por funcionar como cisternas ou reservatórios guardando por largo tempo a água das últimas chuvas: cães de caça, rebanhos, lobos, raposas, teixugos, e toda a bicheza doméstica ou bravia sabem bem do seu poiso porque é aí que se reabastecem e matam a sede quando a canícula aperta e a estiagem se prolonga. Sei de algumas que são mesmo pias em sentido próprio já que transportadas em zorras, corsas ou outros aprestos de arrasto foram trazidas de largo e estão agora à entrada ou dentro de cabanais, lojas, curros ou estábulos para dar de beber ao gado. As gentes rurais, na sua simplicidade, chamam-lhes ainda, e penso que com razão (mais adiante explicarei!), camas das moiras pois acreditam que em certas datas, nomeadamente na noite de S. João, se vêm ali deitar e adormecer até o sol raiar, lindas moças loiras e morenas, tendo ao lado, em alguns casos, segundo a lenda, meadas de linho feito oiro e mantas repletas de figos secos ou a secar...à espera do primeiro felizardo que seja capaz de lhes quebrar o encantamento...
Votadas ao abandono e ao esquecimento, verdadeiras relíquias do passado, mas certamente em relação com o fenómeno da Morte, qualquer que tenha sido a sua função, velhas de séculos ou milénios, perderam de todo a dignidade que tiveram, com largas responsabilidades para todos aqueles que estão pagos para cuidar de tudo o que seja cultura e património, a começar pelos órgãos autárquicos de base, sejam as Juntas de Freguesia, sejam as Câmaras, sejam IPAR(S) e quejandos. A desvergonha e a falta de respeito, em alguns casos, chega ao desplante de o assumido e pretenso dono as escavacar a guilho, pistolo. marreta e pólvora barroqueira, aramar o terreno em volta e colocar placas de aviso do tipo de: "Proprieté Privèe"! "Défense d'entrer"! Pelo dialecto, está-se mesmo a ver que tipo de inluências culturais subjazem ao fenómeno, com todo o respeito... Outras vezes, e dada a desertificação que campeia, são os caminhos seculares, para não dizer milenares, bem assinalados em cartas e mapas, que de repente, sem mais nem ontem, aparecem obstruídos e integrados em propriedades particulares com total desinteresse por parte de quem tem obrigação de zelar pela cultura e pela coisa pública, nomeadamente, e de novo, Juntas, Câmaras, Protecção Civil, e até os homens bons, e à antiga, que já não há - espécie de desforra de uns tantos que deram em crescer à custa de preconceitos mais que ultrapassados. A cultura, um pouco como o ar, o céu, o mar, o sol, a água, são bens, que por serem de todos, não são de ninguém.
Este tipo de sepulturas encontram-se, regra geral, aos pares, por vezes em grupos de três, raramente isoladas, não sem que, mais raramente ainda constituam verdadeiras necrópoles ou cemitérios com dezenas de exemplares, caso de S. Gens (Fornotelheiro - Celorico da Beira), Moreira de Rei (Trancoso) e até mesmo em Trancoso próximo e a NE do Tribunal Judicial.
Em face dos elementos disponíveis, não há, ou eu não conheço, uma teoria verdadeiramente consistente que acerca delas justifique e dê alguma lógica à sua função e até à sua datação cronológica, tendo em atenção o fenómeno da Morte e os rituais próprios desta ou daquela época, seja, no geral, a inumação ou a incineração dos corpos.
Não há, assim, unanimidade quanto à função nem quanto à época a que pertencem, acontecendo até, e no que à inumação se refere, haver fortes contradições entre as teorias propostas e o que na realidade concreta se passa, seja, nomeadamente, a falta de profundidade das "covas", seja a ausência de tampas, seja o serem parte dos alicerces de velhas capelas ou templos paleo-cristãos. Do que pude apurar e, nomeadamente, quanto à sua datação cronológica, há quem as considere pré-históricas (Breuil), quem as situe na Baixa Idade Média quando se encontram junto de templos medievais (Amorim Girão); e outros dizem-nas ainda romanas ou paleo-cristãs, ou seja, dos primórdios do cristianismo (Rocha Peixoto).
Adensa-se o enigma e as dificuldades quanto à sua interpretação aumentam, penso, porque este tipo de sepulturas rupestres se encontram hoje totalmente descontextualizadas em relação ao tipo de povoamento em que estiveram integradas. Difícil, assim, para não dizer impossível, uma interpretação correcta e fidedigna para o fenómeno se não for tido em conta e recriado o contexto em que elas (sepulturas) estiveram vivas na sua função fúnebre de honrar e dar acareio aos mortos.
É assim minha convicção que este tipo de sepulturas rupestres, nomeadamente essas que se encontram por aí perdidas por cerros e matagais, são, no geral, lusitanas, pertencem cronologicamente à época do ferro, funcionaram, estou em crer, no mínimo, até ao advento e instalação do cristianismo (séculos II e III DC), e estiveram integradas em um tipo de povoamento disperso que precedeu a romanização, a qual terá dado origem ao povoamento moderno ou concentrado, que é o actual, também este em vias de sofrer forte descaracterização, como é sabido, dada a desertificação rural que campeia e a que vamos assistindo impunemente. Tratei dessa temática do Povoamento no meu livro "O País das Pedras", editado em 2001, nas rubricas Povoamento Lusitano e Povoamento Romano, a páginas 107 e 117, respectivamente, para onde remeto o leitor interessado. Enquadradas que estavam estas sepulturas rupestres em um tipo de povoamento disperso, como afirmei, inseridas obviamente na cultura lusitana, elas não escapam ao fenómeno da simbologia das Pedras que caracterizou o "modus vivendi" dos lusitanos e que eu venho abordando e decifrando nos meus trabalhos de há mais de vinte anos a esta parte. Essa a razão suficientemente firme e sustentada, penso, que me leva a afirmar que elas são lusitanas. Por outro lado, dada a sua pouca profundidade, a ausência de tampas, dado o rito da incineração que esteve, no geral, em voga nessa época, tendo ainda em atenção o pouco número de exemplares face à população existente, segundo os textos, elas nunca poderiam ter servido para inumar. Daí a minha proposta: elas serviriam, isso sim, para expor o cadáver e honrá-lo antes da cremação - uma espécie de velório, ao tempo. Seriam, assim, camas ou campas expositórias. Daí a verosimilhança entre esta sua verdadeira função e a lenda popular das moiras que aí se vêm deitar nas noites de S. João!... O facto de aparecerem aos pares corrobora a explicação: uma seria para os homens e a outra para as mulheres. Quando aparecem em grupos de três, a menor, por regra transversal às outras duas, serviria para os "novos", que eram os "alvos" e os "ruivos" em sentido estrito. As outras duas seriam para os "velhos" igualmente em sentido estrito, ou seja, os casados.
Dos muitos exemplares de sepulturas antropomórficas que conheço, aquelas que apresentam maior número de elementos da cultura lusitana, tal como eu a interpreto, são as que integram o Monumento Funerário das Panchorras, também tratado neste Blog, sito no limite da Freguesia de Pêga (Guarda). Foram exactamente estes dados que, extrapolando, e por analogia, me permitiram generalizar e poder afirmar o que atrás disse. Seja-me permitido relembrar os elementos lusitanos integradores de tais sepulturas antropomórficas:
- Elas contêm em baixo-relevo um símbolo de cavaleiros exposto a nascente na face do barroquinho que as suporta;
- Integram em alto uma ara de sacrifícios humanos onde seria igualmente praticada a trepanação;
- A curta distância (uns dez metros) a norte, está também uma ara de sacrifícios animais onde, pela forma, seriam imolados um bode, uma ovelha, um porco...com recravas para prisão dos ditos;
- Aos "pés", parte sul, quatro caracteres gregos (?) prefiguram a palavra ARYS (Ares) que era, como se sabe, o nome do deus da guerra dos lusitanos;
- Uma cruz incisa na pedra, ao lado das sepulturas, a nascente, quererá dizer que o monumento funerário foi cristianizado, certamente nos alvores do cristianismo e numa altura em que ele ainda estaria activo;
- No topo, em alto, e junto das sepulturas, o desgaste é notório e o rebaixamento na rocha calcinada permite-nos afirmar, penso, com alguma segurança, que a cremação dos corpos se realizava ali mesmo ao lado, funcionando assim o barroquinho como ara crematória.
Também, e no contexto espacial dos vários exemplares que abordarei a seguir, seja, o Porto Mancal (Miuzela), a necrópole de S. Gens (Celorico da Beira) e Moreira de Rei (Trancoso), é possível detectar elementos integradores da cultura lusitana, nomeadamente no que à simbologia das Pedras se refere, como a seu tempo veremos.
No que respeita à cremação dos corpos, às honras tributadas ao defunto, eventualmente à sua exposição e veneração antes da incineração, virá a propósito referir o que nos diz José Leite de Vasconcelos em Religiões da Lusitânia, Vol. III, página 14, a propósito dos Funerais de Viriato (século II AC):
«Apiano, escritor grego dos século II da era cristã, descreve assim os funerais que a sua gente lhe fez: "Ora pois, tendo-o vestido magnificamente, queimaram-no em uma altíssima pira, e sacrificaram-lhe muitas vítimas; e tanto os soldados de infantaria, como os da cavalaria, correndo à roda, armados e em pelotões, dirigiam-lhe louvores, à maneira dos bárbaros; e até que a pira se extinguiu, todos estiveram em volta dela. Acabada que foi a cerimónia fúnebre, celebraram-se combates corpo a corpo sobre o sepulcro. Tal saudade Viriato deixou de si".
"Nestes funerais temos de distinguir os seguintes elementos:
- Cremação do cadáver depois de muito bem adereçado;
- Sacrifício de vítimas;
- Elogio fúnebre proclamado pelos soldados;
- Deposição das cinzas num sepulcro;
- Combate de gladiadores sobre ele".
E Leite de Vasconcelos conclui, ainda, da seguinte forma: "as palavras de Apiano quanto à cremação do cadáver de Viriato estão de acordo com os resultados obtidos pela arqueologia pois que na segunda Idade do Ferro, ou de La Tène (século VI AC), a cremação estava em voga. As outras cerimónias têm também conhecidamente paralelos em diversos povos"».
Do documento de Apiano e das palavras de Leite de Vasconcelos se poderá concluir também que a incineração dos corpos se fazia ao ar livre, talvez em cima de lajes destinadas ao efeito, do tipo do barroquinho das Panchorras, e não em fornos crematórios como o da Pedra Formosa da Citânia de Briteiros, segundo proposta de interpretação de alguns autores, no início, ao fundo e a sul da referida cividade minhota.
Uma outra interpretação, distinta da de Leite de Vasconcelos, para a palavra "sepulcro", poderá ser a de que as cinzas de Viriato terão jazido sobre o próprio terreno em que o corpo foi cremado, o que poderia constituir regra para outros casos. Efectivamente, e segundo o texto de Apiano, após as cerimónias fúnebres, ter-se-ão realizado combates de gladiadores sobre o sepulcro. Não estou a imaginar este tipo de lutas, por vezes colectivas, em cima de um qualquer mausoléu mesmo que grande em tamanho pela existência de "pilheiras", ou seja, pequenas repartições como as dos pombais onde se colocavam as urnas funerárias, do tipo das célebres e extensas "columbárias" da via Ápia nas imediações de Roma... Acresce ainda que a palavra sepulcro pode aqui (no texto de Apiano) ter um outro significado que é o de "local onde morreu muita gente, onde houve muitas vítimas". Ora, pelo texto, ficámos também a saber que das cerimónias fúnebres fizeram igualmente parte "hecatombes" (mais de cem vítimas) a que não foram alheios certamente sacrifícios humanos, nomeadamente de prisioneiros. De registar que neste contexto e com igual significado, porventura, é muito frequente na zona a que preferencialmente se reportam os meus trabalhos o topónimo Mortórios. De acrescentar ainda, e segundo a opinião de Leite de Vasconcelos, que, no geral, "não havia na Lusitânia sumptuosidade na fábrica da morada dos mortos".
Não faltam documentos a atestar da regra da incineração dos cadáveres na Ibéria, como um ritual dominante na Pré-história, na Idade do Bronze e do Ferro. Vejamos.
«Sílio Itálico, em Punica XVI, 546 - 548, falando de um duelo realizado no ano de 206 AC entre Corbis e Orsua, príncipes celtibéricos, diz que havendo-se matado um ao outro, foram depois queimados em uma pira mas que, como eram irmãos, a chama se fendeu em duas e que nem as cinzas quiseram repousar juntas (Religiões da Lusitânia, Vol. III)».
«O uso de incinerar os cadáveres que estava em voga na Lusitânia no tempo da República persistiu no do Império por largo tempo... Os dois modos de sepultar usados no século V AC subsistiam ainda no século I da era cristã mas o da incineração era mais geral. A incineração não se aplicava às crianças que ainda não tinham dentes. Os pobres eram mais vezes inumados que incinerados. O rito da incineração trazido pelos romanos com a conquista veio sobrepor-se a um rito que já cá existia (Religiões da Lusitânia, Vol. III, página 377)».
É o dogma da Ressurreição e a necessidade de um corpo que sirva de suporte à alma, após o Juízo Final, que leva o Cristianismo a adoptar para os seus fiéis o rito da inumação chegando mesmo a proibir a incineração: « A Igreja logo nos primeiros tempos do Cristianismo condenou e proibiu, entre os seus fiéis, a prática da cremação dos cadáveres. Segundo o cânone n-º 1240, os cristãos que desejarem a incineração do seu corpo serão privados de sepulturas eclesiásticas (GEPB)».
Também, e mais uma vez, Leite de Vasconcelos se refere ao fenómeno da Ressurreição a propósito de algumas sepulturas existentes em Mértola:
«Às inscrições de Myrtilis correspondia um vasto cemitério situado no local que hoje se chama Rocio do Carmo, na vila de Mértola, em parte explorado por Estácio da Veiga, em parte por mim, cemitério que constava de sepulturas de diversos tipos, umas delas feitas de pedra, outras abertas em fragas, outras na terra simples: os cadáveres eram postos em decúbito dorsal, geralmente sem objectos ao pé; as campas estavam muito fechadas por causa da crença de que os corpos deviam ficar bem conservados para poderem ressuscitar no juízo final (Religiões da Lusitânia, Vol III, página 582)».
Também o mesmo autor, e no mesmo extracto do texto, coloca a questão igualmente levantada por mim da ausência de tampas para as sepulturas rupestres existentes no território nacional, ao afirmar: «Vem a propósito notar que em Portugal abundam as sepulturas abertas em fragas, as quais se encontram ora em grupos, ora avulsas, sempre já esvaziadas e destapadas, o que dificulta conhecer a época». Ao que eu acrescentaria "conhecer igualmente a sua função".
Ainda segundo Leite de Vasconcelos "as cinzas mortuárias depositavam-se já em "ollas" já no próprio chão das sepulturas", o que terá acontecido nos funerais de Viriato.
As "ollas" eram o equivalente às urnas cinerárias, normalmente feitas de barro, mas também de chumbo e de pedra sendo guardadas em terreno do defunto ou mesmo na própria casa. Coloco a questão de, entre os lusitanos, poderem ainda ser feitas de madeira, e isto a crer no geógrafo grego Estrabão quando afirma que, embora em um outro contexto que não este, "os lusitanos utilizavam sobretudo vasos de madeira". Este facto poderia explicar, no todo ou em parte, o não aparecerem tais artefactos fúnebres dado que a madeira é material perecível. Coloco ainda a hipótese de algumas das poças que superabundam por cerros e barrocais, outrora povoados, poderem ter servido de "urnas cinerárias"; para o efeito bastaria uma simples lasca a servir de tampa aos despojos fúnebres incinerados e aí colocados. Os denominados "fiéis de Deus", que são montículos de pedras existentes por esses campos fora, em algumas zonas do país, e o hábito de as pessoas acrescentarem o monte com uma pedra e rezarem um padre-nosso pelos seus mortos, bem poderão estar em conexão e ser mesmo um sucedâneo das primitivas e diminutas sepulturas que faziam as vezes das olas ou urnas cinerárias. Mais uma questão em aberto!
Também na cultura popular, é minha convicção, existem ainda alguns resquícios que nos vêm desse tempo longínquo em que a regra era os nossos antepassados cremarem os corpos e quiçá guardarem, cada um, as cinzas dos seus ou devolverem-nas tão simplesmente à mãe-terra de que provimos. Ainda hoje o ritual de espalhar as cinzas nos rios, nos mares, nos campos, nas montanhas, não será de todo em todo ocasional. Veja-se o caso dos indianos em relação ao Ganges, por exemplo...
A expressão popular "saber cinzas de sete lares", que se aplica a mulheres que sabem muito da vida alheia, poderá remontar a esse tempo em que as cinzas eram guardadas em casa, no lar... Veja-se da dificuldade, ao fim de várias gerações mortas e incineradas, em identificar as cinzas correspondentes a este ou àquele membro da família. Só realmente alguém muito por dentro do assunto poderia fazê-lo com acerto. Daí a expressão "saber ou distinguir" as cinzas dos vários mortos da família, ou seja, as tais "cinzas de sete lares"... É que, não há epitáfios!
Ainda, o termo "pilheira" que, no tocante aos ritos cinerários, significa o espaço onde se guardam as olas nos columbários, ainda hoje significa, na Beira, a parte da retaguarda da lareira onde se depositam as cinzas sobrantes do último lume...
Ainda hoje, nos meios rurais, acerca de assuntos sérios e importantes, as gentes se juram: "Pelas cinzas do meu pai! Pelas cinzas do meu homem! Etc.
Também o ritual cristão da imposição das cinzas, na Quarta-Feira de Cinzas, que de princípio se aplicava apenas aos grandes pecadores e só depois se generalizou a todos os fiéis, poderá ter a ver com a incineração que precedeu a inumação entre os cristãos. Na própria fórmula "memento homo quia pulvis es et in pulverem reverteris" (lembra-te, homem, que és pó e em pó te hás-de converter), o termo , poeira, estão, na verdade, em conexão com o material utilizado que deve ser cinza de ramos de oliveira, de palmeira e de videira. Aliás, o termo latino pulvis, eris, no plural, significa isso mesmo: as cinzas dos mortos (Dicionário Latino-Português, Torrinha).














domingo, 5 de abril de 2009

INTRODUÇÃO











Não faria sentido, seria absolutamente redundante, vir agora através deste Blog - NA ROTA DAS PEDRAS - fazer a reedição total, ou mesmo parcial que fosse, dos livros que oportunamente publiquei, nomeadamente os que às Pedras se referem em exclusivo, seja, Os Cabeços das Maias (1995) e O País das Pedras (2001). Mas também nos outros títulos o tema das Pedras foi igualmente tratado sempre que entendi oportuno fazê-lo, embora de forma casuística e circunstancial. Assim, no livro A Guarda No Caminho do Estremo era inevitável abordar essa temática a propósito da história de Vila do Touro e de Sortelha (pág.s 64 e 108), de tal modo o fenómeno é avassalador, e ainda no livro Pêga - Terra de Panchurras (2008) quando tratei de assuntos como os menhires, as sepulturas e os vestígios rupestres (pág. 49 e seguintes) existentes no limite da freguesia. Mesmo no livro Rosas de Santa Maria, cujo texto é predominantemente literário, ao fazer a sua reedição em 2002, não quis perder a oportunidade de mais uma vez insistir na divulação da minha tese e proposta de interpretação das Pedras ao introduzi-lo com a comunicação que, em 31/5/01, fiz no Paço da Cultura da Guarda aquando da apresentação de O País das Pedras, adaptado agora o texto, evidente, à sua nova circunstância com o título "Rosas de Santa Maria e a temática das Pedras".
Evidente que tudo o que vier a ser tratado neste Blog terá necessariamente a ver, será mesmo assunto decorrente, com a tese ou proposta constante dos livros supra-mencionados, donde, para uma melhor e maior compreensão do que vier a acontecer nesta minha página da Internet, talvez ajude a leitura das obras acima citadas nomeadamente Os Cabeços das Maias e O País das Pedras cujas capas reproduzi no início.
De um modo geral, e muito sucintamente, em que consiste então essa tese ou proposta com que iniciei o percurso da minha escrita, em 1995, in Os Cabeços das Maias, espécie de teoria geral, prolongada e explicitada em 2001 n'O País das Pedras?
Preto no branco: muitas das Pedras que hoje fazem a paisagem granítica das zonas do interior, umas de raiz ou fixas, os barrocos, outras móveis, os menhires e cavalos de frisa, não são, em meu entender, um resultado da erosão mas sim do martelo, do cinzel, do escopro, do pistolo do homem pré-romano e as figuras obtidas, por regra em contra-luz, inserem-se em um contexto religioso-cultural lusitano anterior à nossa era. Situar-se-ão cronologicamente na Idade do Ferro com início, segundo uns, no século VIII AC ou no século VI segundo outros. E terá toda a lógica, penso, já que o granito, nomeadamente o de grão fino, pressupõe a existência de um material mais duro para ser trabalhado. Exclusão assim para o cobre e mesmo para o bronze. O fenómeno das Pedras, portanto, no meu modesto entender, e na perspectiva em que aqui é abordado, não terá nada a ver com o Paleolítico, Neolítico, Calcolítico ou a Idade do Bronze.
Neste sentido, e na mesma perspectiva, em Espanha, as coisas mexem e sem os preconceitos atreitos a instâncias de nível superior ou como tal consideradas. Entre outros de referir o nome do professor universitário de Salamanca, Ramón Grande del Brio, por exemplo, com obra publicada acerca de modelos similares àqueles que eu próprio analisei do lado de cá da fronteira.
A abundância e a dispersão dos vários modelos existentes têm a ver necessariamente com a densidade populacional característica de uma ou várias épocas históricas que integram esse período longínquo e com o tipo de povoamento disperso que precedeu o povoamento concentrado (ou moderno) operado com a pax romana - rubricas por mim tratadas nos dois livros citados sobretudo em O País das Pedras.
Admiro-me eu hoje como certas pessoas e até entidades com responsabilidades ao nível da história e da cultura não vêem ou não querem ver tal fenómeno e tudo cirunscrevem e interpretam como um resultado da erosão operada sob a influência de líquenes, de chuvas, de ventos, de rios e mares que nunca existiram, de vulcões, de terramotos... Claro que pensar deste modo facilita porque tudo estaria assim explicado. Mas se, porventura, eu ou alguém levantar o problema de que o fenómeno é consequência da acção do homem, como estou certo que o é, impende sobre o próprio e outros eventuais interessados a obrigação de fazer a respectiva leitura e avançar com propostas de interpretação. Foi afinal o que eu fiz. Aqueles que discordam terão que ter a coragem de dizer que o fenómeno não existe. Existindo, porque existe, ninguém estará dispensado de ousar.
Como surgiu então esta teoria ou proposta?
Sou um natural, e de há muitos anos residente à ilharga da denominada Zona das Pedras integrada nomeadamente pelo Cabeço das Fráguas, pelo S. Cornélio e outros cabeços menores em que o fenómeno das manifestações líticas prolifera abundantemente. Acontece assim que desde a minha infância me foram quase uma obsessão as cabeças (de homem, de mulher), os berrões, as aras sacrificiais, as recravas ou chumbadoiros, os cágados, os sapos, abutres, corvos, pés, podomorfos, botas direccionais, figuras fálicas, serpentiformes, barcos e outros símbolos femininos, moirões, pias, poças, figuras geométricas (quadriláteras, triangulares, cónicas), perros ou cães, assentos, sepulturas, cavalos de frisa que ainda hoje fazem a divisão e a estrutura da propriedade rústica por estas bandas...
Sendo um amante da natureza, e também caçador, deu para reparar que os vários modelos se repetiam em locais tão distintos, como sejam, esta minha zona a que eu pertenço mas também a Beira Baixa, o Alto Alentejo, a Extremadura Espanhola, a Serra da Estrela, Trancoso, Foz Coa etc, etc. Esta coincidência deu para criar em mim a convicção de que tudo isto não poderia ser ocasional. Daqui resultou que, ao longo de anos, fui formando instintivamente e de modo empírico o que bem poderia designar de colecções mentais dos objectos observados: cabeças, berrões, perros, figuras geométricas, etc.
O encontro não meramente ocasional das Pedras (6) que integram o que mais tarde designei de Santuário Rupestre Lusitano da Cornusela, nas imediações do monte S. Cornélio e no caminho de Sortelha, e a "nomeação" que fiz dos respectivos elementos em correspondência com os atributos da Divindade Lusitana constantes da inscrição lusibérica das Fráguas foram decisivos em todo este processo: a leitura e interpretação desses elementos vão fazer com que, pelo método dedutivo-analógico, eu interprete, de forma muito tímida a princípio, todo o material que eu já conhecia e vinha coleccionando nos diversos lugares. A convicção de que eu devia divulgar este "achado" deveras complexo, polémico e eventualmente "perturbador", como alguém já disse, criou em mim a obrigação de escrever e publicar o meu primeiro livro - Os Cabeços das Maias - o que acontece em 1995. Logo a seguir, a ideia bem singela de que era impossível não haver nos textos dos clássicos (Estrabão, Plínio...) e na etnografia portuguesa (Leite de Vasconcelos, Teófilo Braga...) elementos convergentes com a minha tese ou proposta leva-me a fazer uma inventariação de dados através da leitura desses e de outros autores - as conclusões obtidas, que ultrapassaram em muito as minhas expectativas, diga-se, mais os elementos sobrantes do primeiro livro e outros novos que, no após, fui recolhendo, dão origem, em 2001, a O País das Pedras que é assim uma explicitação e prolongamento do primeiro a corroborar a tese ao tempo formulada.
Porquê então, aqui e agora, este Blog sobre a mesma temática das Pedras abordada que já foi nos meus livros publicados?
Intuitos de divulgação, certamente, mas desta vez, e aproveitando o poder da imagem e das novas tecnologias, numa perspectiva dirigida e muito concreta do hibridismo das Pedras e da sua relação com a toponímia do local em que se situam, com as lendas e a cultura popular, quando for o caso.
Convicto da veracidade das conclusões a que cheguei entendo assim ser obrigação minha divulgar as teses que em devido tempo avancei, mas igualmente os muitos modelos líticos que conheço e que superabundam por esse "país das pedras" que é o nosso. Talvez ajude a que outros, e na mesma perspectiva, façam igual inventariação de modelos seus conhecidos em outros locais, a bem da cultura.
Procurarei também trazer à evidência, como já disse, o hibridismo de alguns modelos e que consiste no seguinte: a mesma Pedra produz diferentes imagens (figuras) consoante o ângulo de observação. E não me falem no primarismo dessa vetusta arte lusitana de esculpir o granito! É que, nenhuma das imagens a obter poderia perturbar as restantes... E isso não se me afigura fácil... Por outro lado, é impressionante como ainda hoje, na maioria dos casos, os nomes dos locais, sobretudo ao nível da propriedade rústica, têm a ver com as Pedras existentes "in situ". Sendo o fenómeno anterior à nossa era veja-se assim da antiguidade da toponímia que ainda hoje faz as matrizes das Finanças dos vários concelhos com todas as vantagens daí decorrentes para o comum dos cidadãos ditos modernos... É, no mínimo, a Pré-História (?) a entrar na nossa contemporaneidade!!!!!
Finalmente, para cada caso, apresentarei em esboço um roteiro destinado àqueles que, por curiosidade, cultura ou passatempo, queiram repetir o percurso que alguém já fez por conta e risco.










Nota - Os livros que ao assunto se referem, e que acima nomeei, podem ser encomendados à CASA VERITAS - GUARDA pelo telefone (271)222105 ou através do endereço veritas-marques@mail.telepac.pt